Sítio Crescer

Reportagem do Jornal Pioneiro sobre o estilo de vida no Sítio


Texto Siliane Vieira e Imagens: Jonas Ramos
Enquanto conversa, o garibaldense Damian Paulo Chiesa, 32 anos, chama a si mesmo de "guri de apartamento" várias vezes. Mas a verdade é que ter crescido numa área central rodeada por concreto — ainda que de uma cidade de interior — não definiu quais seriam suas escolhas. Ainda adolescente, o garoto já sentia crescer uma vontade de conexão com a terra.

— Tinha um terreno do lado da casa do meu amigo e a gente ia lá plantar laranja, bergamota, alface. Não sabíamos nada, dois guris de apartamento — repete ele, que hoje administra o Sítio Crescer, no interior de Garibaldi, ao lado da mulher, a jornalista Ana Cláudia Mutterle Chiesa, 23.

Os dois se conheceram por intermédio de grupos de jovens da Igreja Católica e ela acabou contagiada pelos interesses ecológicos do namorado. Depois do casamento, no ano passado, eles resolveram que era hora de fazer da vida saudável e do contato com a natureza um estilo de vida.

Formado em Administração de Empresas, Damian era proprietário de uma loja de roupas e, em abril passado, vendeu o estabelecimento para investir tudo no sítio, que já havia adquirido há sete anos. Agora, o sustento vem da venda das hortaliças orgânicas que produz (alface, agrião, espinafre, salsa, cogumelos), além de temperos e frutas nativas da época.

— Eu sempre fui curioso para ter uma vida mais sustentável. Todo mundo achava estranho que eu ia nos cursos para produtores rurais mesmo antes de ter o sítio — aponta ele, sócio da cooperativa de produtores orgânicos desde 2011.  

A falta de experiência o colocou em alguns apuros momentâneos, mas nunca diminuiu seu empenho em aprender:

— Foram muitas galinhas que fugiram. Também teve um verão em que passei citronela direto no braço para espantar os insetos. Eles não vieram, mas em compensação meu braço ficou horrível — diverte-se.

Assim como Damian, Ana também vivia num apartamento, só que num bairro populoso de Caxias do Sul. Para ela, a mudança para uma casa rodeada de plantas e animais foi ainda mais radical.

— Eu estava lá, universitária, trabalhando, fazendo TCC, demorando pelo menos 40 minutos para chegar de ônibus em qualquer lugar, chegava em casa sempre cansada. Hoje a vida é bem mais tranquila — diz Ana, que ajuda o marido a embalar hortaliças orgânicas para vender e aprendeu aos poucos a usar os alimentos do sítio para cozinhar em casa.

— No início tinha uma certa ansiedade por não saber como as coisas funcionavam, foi um beabá desde o início. Cheguei a colocar inço na comida pensando que era manjericão (risos) — conta.

A menina da cidade que nunca teve bicho de estimação, hoje caminha cheia de sorrisos enquanto brinca com o cão Max, com a gata Poderosa, ou ajuda a tratar das galinhas e das ovelhas.

— Agora esse estilo de vida já está incorporado — diz ela, que fez até mesmo cursos de pancs (plantas alimentícias não convencionais), e vez ou outra interrompe a caminhada pelo sítio para mostrar a quem está perto que "olha, esse trevinho dá para comer".

Uma das "exigências" de Ana para se mudar para a nova casa era ter acesso a internet, garantido apenas seis meses depois que o casal estava morando junto no sítio. Mais do que um conforto — e a possibilidade de se divertir com Netflix nas horas vagas —, a internet permite que Ana não se desconecte por completo de sua profissão, realizando assessoria de imprensa para alguns clientes e mergulhando no que ela gosta de chamar de "jornalismo de sítio".

— Eu abasteço as redes sociais do sítio. Minha última cobertura foi de uma produção de geleia que fizemos aqui com um grupo de jovens. Esses dias também fotografei um ratão do banhado nadando entre os patos e a Poderosa no trator — diz, feliz.

A casa de Ana e Damian e confortável e moderna, mas qualquer olhar mais atento já detecta sinais de sustentabilidade, como o uso de tijolos ecológicos, de telhas feitas com caixinhas de leite, e de madeira de reflorestamento. Embaixo da moradia, um refeitório tem espaço para cerca de 90 pessoas e já recebe encontros e retiros. Acima da moradia, um hostel com dormitórios para 60 pessoas deve ficar pronto nos próximos meses. A ideia dos administradores do Sítio Crescer é receber grupos interessados em aprender mais sobre a produção rural sem agrotóxicos e sobre a vida longe da cidade (ainda que a propriedade esteja a apenas 10 minutos de carro do Centro de Garibaldi). Entre as principais atividades que eles planejam oferecer está o tour guiado com dicas de educação ambiental e até um "colha e pague", no qual a pessoal faz a sua feirinha na horta e depois paga diretamente ao agricultor, no caso Damian e Ana.  

— Queremos proporcionar a vida do sítio para os outros — sintetiza Damian.

Link da reportagem completa: http://pioneiro.clicrbs.com.br/especiais-pio/almanaque716/716.html

PUBLIÇÃO EM 3 DE SETEMBRO DE 2016